quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

António Manuel Ribeiro

Ao longo dos anos assisti a justificações atrás de justificações sobre o mercado português do disco. Uma das primeiras a que torci o nariz teve a ver com a redução das cifras para atribuição de discos metalizados: em 1980 “Cavalos de Corrida” foi o primeiro Single de prata do rock português com mais de 30.000 exemplares vendidos; hoje a prata atinge-se à passagem das 10.000 unidades.

Por ventura o tempo deu-me razão. A quantidade de discos de platina que um disco cada vez menos ganha não foi como não é sintoma da saúde do nosso mercado. Tratou-se de uma opção, da qual sempre discordei.

Não escrevi aqui um texto contra a AFP: o que eu quero é ver essa nossa Associação forte e fortalecida. Aliás, sem ser fã da teoria da conspiração, julgo que a AFP limita-se a publicar e chancelar as tabelas que lhe são fornecidas.

Mas gostaria de ver a AFP a lutar politicamente na Assembleia da República – que grande lição a FNAC nos tem dado – por causa de uma estúpida tabela de IVA sobre o disco e o DVD de 19%: caricatamente, o poema “Rua do Carmo” e outros que gravei, são taxados a 5% de IVA no meu primeiro livro e a 19% nos discos editados.

Ganha o Estado com isto? Claro que não. Ganham os piratas e as feiras de pirataria. Catorze por cento a menos num disco de 15/16 Euros ajudava os mais jovens e menos endinheirados a procurar as obras originais – a cultura fomenta-se assim.

Foi esta a minha luta durante os oito anos em que estive na SPA como director para a música ligeira. Procuraram-se conjugar esforços (GDA, AFP e AFI) mas não se passou daí.

Já gosto de muito pouca coisa que os E.U.A. exportam, tal a confusão em que mergulham o planeta regularmente. Fico-me pela cultura: os livros, a música (sempre) e alguns filmes.

É uma delícia abrir a revista Billboard e verificar o cuidado que a indústria local (também a passar por uma recessão sem fim à vista) coloca na exposição do seu mercado e do TOP de vendas que corresponde a cada estilo musical. Vale a pena darem uma olhada na NET e perceberão porquê.

Era assim que gostava de viver a minha profissão, num país onde a música tivesse indicadores fiáveis: ganhava a indústria e os seus vários intervenientes.

Dou um exemplo: o nosso CD de 2003 "La Pop End Rock", vendeu na primeira quinzena cerca de 3.500 exemplares. Como é um disco duplo, a contagem para efeitos de Top multiplicava por dois. Apesar do número ser muito bom nos tempos que correm – estamos a falar de quase 7.000 unidades – nunca entrou para o Top. Porquê?

Os 'statements' recebidos pelo grupo confirmam essas vendas.

Não quero com isto dizer que fomos traumaticamente excluídos, mas apenas anotar que o Top nacional de vendas devia reflectir o que todos os postos de venda efectivamente vendem e não apenas alguns.

A terminar: o 'by out' é uma técnica de vendas como outra qualquer. Arrisca quem pode e quem quer. Não me parece que seja uma forma sólida de encarar o mercado e as suas crises neste país em crise, e só.

António Manuel Ribeiro (UHF), Blog Canal Maldito, 18/01/2005

No meu próximo livro abordo a questão da seriedade do Top e de como as associadas na AFP o foram reformulando ao longo dos anos: um Top, se reflecte a verdade das vendas e não o calendário dos interesses à vez, não precisa de ser mexido. Contudo, lamento que a AFP não esteja exposta num programa de TV como acontecia desde há dezenas de anos - diminuir é retirar visibilidade.

AMR, Facebook, 10/11/2014

(...) só entra no Top de vendas da AFP quem está a ser distribuído por uma editora/distribuidora associada. Por exemplo, as vendas do merchandising não contam, nem das lojas virtuais ou de venda postal. E ainda bem, senão apareceriam por aí fenómenos a vender 500 mil na estrada. Ou seja, de momento vendem os sucessos imediatos e quem congregou fãs. A música mudou.

AMR, Facebook, 10/11/2014

Com a afirmação 'quem gosta de música faz pirataria e depois vai comprar o original' não vamos lá. Não é um processo justo ou legal, e a legalidade para ser efectiva não pode ter quintais de excepção, porque depois somamos as excepções de cada um e temos uma regra. É a arbitrariedade contra o direito; sou pelo direito, em tudo, e tudo edifica uma sociedade séria ou uma sociedade defeituosa. Neste tempo digital, se uma pessoa quer conhecer um disco e avaliá-lo pode sempre ouvir o MP3 via Amazon (por exemplo) e depois decidir se compra. A grande pergunta é esta: que interesses movem os sites de pirataria? Quem lucra? Que trabalho realizam para assumir direitos alheios? Assim, matamos a fonte.

AMR, Facebook, 10/11/2014


António Manuel Ribeiro nasceu em Almada no dia 2 de Agosto de 1954. Fez o liceu por lá  quase  sempre  com  distinção. 

Estagia  então  no  trissemanário  Record  e por  lá  fica  até  1980.

Os UHF, formados em 1978, partem para a corrida da música pop/rock deste país com os  seus “Cavalos”,  e  não  mais  vão  parar. Envolvidos no esforço diário de ser e teimar tocar, ignoram que estão a fundar o mais importante movimento de renovação da música portuguesa pós Abril de ‘74: nada ficará como dantes, erguendo-se uma indústria, porque o rock vingou e se tornou português.

Ao  longo  dos  anos  manteve  a  escrita  de crónicas para jornais e rádios. Ajudou a fundar duas piratas onde assumiu programas de autor – a rádio é uma paixão.

É autor de textos, que vão da música ao futebol, dispersos por vários livros.


http://www.chiadoeditora.com/autores/antonio-manuel-ribeiro 

Tendo agora 35 anos de carreira muito mudou no mercado da música.

Os UHF passaram por editoras como a Valentim de Carvalho, Rádio Triunfo, Edisom, Metro-Som e BMG. Depois criaram a independente Am.ra Discos que pontualmente se associou à Vidisco/Road Records, Emi ou Sony.

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