terça-feira, 8 de março de 2011

Os novos piratas da música

As vendas oficiais de discos começam a cair. Editores e autores recorrem à lei para neutralizar as cópias e os downloads ilegais, mas os marketers podem ser uma chave fundamental nesta batalha. Promover singles torna-se imperativo

Porque é que nunca mais houve um Stevie Wonder a liderar os tops durante mais de um ano? Porque é que grandes fenómenos como os Anjos não vendem metade do que venderam os Silence 4? Porque é que de repente reapareceu uma tabela de singles?

As cópias ilegais de CDs e os downloads da internet respondem a estas questões. Até ao ano passado, quando aparecia um sucesso na música, as editoras enchiam os cofres durante largas semanas. Agora, é apenas na primeira semana que tudo se joga, principalmente se, os maiores fãs são jovens. A partir daí, as cópias ilegais multiplicam-se. O consumidor continua a adquirir esses sucessos mas as editoras já não entram no jogo.

Portugal ainda não dispõe de números oficias sobre as gravações de CDs mas os dados disponíveis apontam para vendas de CDRs (Compact Disc Recordable) na ordem dos 5 milhões por ano, dos quais 2,5 milhões se destinam a gravações ilícitas. Este fenómeno, em conjunto com as cópias ilegais via internet, levou a que as vendas de discos em Portugal caíssem 1,64%, de 1998 para 1999.


De acordo com dados da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) esta foi a primeira vez, desde os últimos 10 anos, que o sector registou uma quebra. Pelo contrário, o mercado registava até aqui crescimentos na ordem dos 15% ao ano. De acordo com Eduardo Simões, director geral desta associação, a quebra face a 1998 tende a manter-se também este ano e representa muito mais do que aparenta. O responsável explica que este decréscimo significa uma perda de ritmo de crescimento, pelo que «no fundo, os 1,64% representam uma quebra de 11 a 13%».

O regresso dos singles

Para fazer face a esta situação, surgem diversas soluções nas quais o marketing assume um papel de relevo, ao lado da legislação e da tecnologia. Embora possa parecer paradoxal, as editoras esforçam-se por promover a distribuição discográfica (legal) na internet. Para tal, celebram acordos com sites de música, entram nos capitais dessas empresas e unem-se para definir leis e regras que reequilibrem o mercado. A promoção do comércio de singles é também uma boa aposta para abrir o caminho da internet às editoras. Esta é uma ferramenta duplamente importante no desenvolvimento do sector. Por um lado, abre caminho para a entrada das editoras no comércio electrónico, que segundo os protagonistas, vive muito da venda faixa a faixa. Por outro, poderá desincentivar a prática dos downloads ilegais (aqueles em que não há quaisquer pagamentos aos autores ou aos proprietários dos direitos). Como comprova um recente estudo do site britânico especializado em música, www.dotmusic.com, há quem opte por tirar da internet apenas uma ou duas músicas de um álbum inteiro porque apenas são essas que o atraem. Havendo uma razoável oferta de singles, o download ilegal poderá diminuir consideravelmente, até porque é mais prático comprar um CD numa discoteca do que esperar longos minutos pela transferência da música para o computador.

Não alheio a esta realidade, o mercado nacional recuperou no mês passado a tabela de singles, após seis anos de ausência. Como explica o director geral da AFP, «este é um factor importantíssimo para relançar este mercado» e espera-se que dentro de alguns anos o mercado dos singles esteja dinamizado, o que não acontece desde 1993.

O director de marketing da EMI-Valentim de Carvalho, João Teixeira, defende que a batalha contra a pirataria «é demasiado grande para que as empresas ajam individualmente». Nesta perspectiva, o responsável justifica que não é com maiores investimentos publicitários por parte de cada empresa que se consegue vencer. No caso da EMI-VC, esta editora tem-se unido a inúmeros sites, como o liquidaudio.com e o musicmaker.com, entre outros, tendo disponibilizado para venda no passado mês de Julho cerca de 200 singles e de 100 álbuns.

Para ajudar a resolver este problema, o Ministério da Cultura está a preparar uma campanha de publicidade que deverá ser lançada no início do ano lectivo e que visa sensibilizar, para além dos ‘piratas’ em geral, os responsáveis dos departamentos audiovisuais dos estabelecimentos de ensino. É que as escolas, bem como algumas empresas que dispõem de gravadores de CDs estão-se a tornar verdadeiros centros de reprodução de CDs ilegais. Mesmo assim, o grande problema não está nas gravações domésticas mas na proliferação de verdadeiros piratas. Até à data havia meia dúzia destes indivíduos. Agora, dados os baixos custos de reprodução e a acessibilidade ao negócio, os focos multiplicaram-se e torna-se cada vez mais difícil a sua identificação. A fiscalização em locais de grande tráfego, como as feiras, vai no entanto sendo cada vez mais apertadas, aumentando as probabilidades de maiores apreensões.

Quadro legal caótico

Nos Estados Unidos, um dos sites mais fustigado pelas autoridades tem sido o mp3.com que recentemente, após uma sentença que o obrigava ao pagamento de indemnizações na ordem dos 20 milhões de dólares, chegou a acordo com a Warner Music e a BMG no sentido de lhes pagar uma percentagem por música distribuída online. Por cá, a AFP já começou a enveredar pelo mesmo caminho. De acordo com Eduardo Simões, já foram apresentadas queixas-crime contra dois sites portugueses, ao abrigo do código dos direitos de autor. O que se pretende é o encerramento de todos os sites que distribuam música ilegalmente e que estes avancem com as respectivas indemnizações.

Todavia, esta é sempre uma questão difícil porque como o próprio classifica, ao nível de cópias por internet «o quadro legal está o caos». Já no caso dos CDRs existe uma legislação completa. Relativamente aos acordos entre editoras e sites deste género, o responsável mostrou-se reticente. «O sistema norte-americano é diferente do europeu e há que realçar que os donos dos reportórios são as editoras e não os reprodutores por isso são elas que têm de decidir sobre o momento dos lançamentos e sobre os seus objectivos», salienta.

Outro tipo de solução, de ordem tecnológica, passa pelo SDMI (Secure Digital Music Interactive), um consórcio de editoras e empresas de tecnologia que tem como objectivo desenvolver meios de proteger a música contra a pirataria. Numa primeira fase irá intervir ao nível das gravações e dos aparelhos MP3 portáteis e mais tarde ao nível dos próprios discos que passarão a ter dispositivos anti-gravação.

No que diz respeito a legislação sobre internet, aguarda-se neste momento que os países da União Europeia – onde as quebras de vendas atingem uma média de 3% – ratifiquem os tratados da OMPI (Organização Mundial para a Propriedade Intelectual). Apesar do avanço deste processo não depender neste momento do governo português, a AFP acusa o executivo da «neutralidade» com que agiu enquanto esteve na presidência europeia. «Não ajudou em nada, o que só favorece os interesses dos grandes operadores de telecomunicações que também beneficiam com a utilização da internet», reclama Eduardo Simões. Perante este cenário, o porta voz da indústria discográfica nacional confessa que «estamos obviamente preocupados mas não em pânico. Temos confiança nos meios de que dispomos». Agora, há que dar largas à imaginação e, contra os piratas, lutar, lutar.

Marisa Moura / Marketing & Publicidade, Setembro de 2000

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