terça-feira, 20 de julho de 2010

AFI

Em 1991 a Movieplay (herdeira do espólio da Rádio Triunfo e da Orfeu), a Vidisco, Ovação, UPAV, Edisco, Metrosom, Dualsom, entre outras, criam a Associação Fonográfica Independente”. A principal razão foi o selo obrigatório e as taxas que ele acarretava a estas editoras que usavam esse formato (cassete) e cujas vendas se mantiveram significativas até ao ano 2000.

Nelson Gomes, "Música Cultura e estado"

"São duas as associações de editoras existentes: a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) que reúne as 5 majors e outras 11 editoras nacionais, como por exemplo a Vidisco; e a Associação Fonográfica Independente (AFI) na qual se associam 19 editoras, todas nacionais, designadamente a Movieplay e a Espacial."

José Soares Neves, "Portugal no panorama da indústria fonográfica" (2003)

AFI

A Associação Fonográfica Independente (AFI) englobava apenas entidades nacionais (não são apenas editoras) entre elas a Movieplay que nunca pertenceu à AFP.

A AFI também atribuía galardões:

Foi, igualmente, estabelecido um protocolo entre a SPA e a AFl - Associação Fonográfica Independente - para a atribuição de galardões aos fonogramas que atinjam 20 000 unidades (Disco de Prata), 40 000 unidades (Disco de Ouro) e 80 000 unidades (Disco de Platina).

Autores: boletim da Sociedade de Escritores e Compositores ... - Edições 126-133 - Página 43

No programa "Made In Portugal", organizado pela  RTP em conjunto com as duas associaçãoes (AFP e AFI), acabaram por ser divulgados nomes como Dulce Pontes (da Movieplay), Quim Barreiros na fase Discossete ou Ágata, Fernando Correia Marques e Tony Carreira da editora Espacial (que nessa altura não pertencia à AFP) bem como artistas de editoras mais pequenas (Mónica Sintra, Micaela, etc).

A AFI acabou por perder protagonismo com o fim da Discossete (vendida à Espacial) e após a entrada da Espacial na AFP e a redução do investimento em novos lançamentos por parte da Movieplay.

Artigo do jornal Expresso sobre êxitos populares (1998): Êxitos do nosso Verão

Para os artistas, e restantes sectores e profissões ligados à indústria musical, o Verão é verdadeiramente um período dourado

FÉRIAS é fundamental, dizia uma canção que, em Agosto do ano passado, teve direito a videoclip e presença demorada na tabela de vendas de discos. Alguém se lembra dela? E do «Planeta dos Pimpolhos» ou de «Certinho e Direitinho», que lhe disputavam os lugares imediatos?

É provável que não - a música popular é fértil em singularidades que se esgotam com prontidão, passados minutos ou semanas iniciais de fama; e o Verão abunda em êxitos pronto-a-comer, carreiras artísticas instantâneas, nomes e rostos que desaparecem tão depressa quanto surgem. O Verão é, de resto, uma época de abastança, o momento do triunfo sobre as penitências e abstinências do Inverno, o tempo da colheita.

Para os artistas, e restantes sectores e profissões ligados à indústria musical, é verdadeiramente um período dourado. Se durante o resto do ano o circuito de concertos é limitado pela existência, ou não, de salas apropriadas para o efeito, nesta época tradicionalmente propícia a celebrações - e sobretudo em Agosto - há sempre feiras e festas ao ar livre nas vilas, mas quase todas as aldeias do país têm também a sua, cujos responsáveis ou «mordomos» são escolhidos com um ano de antecedência. Os organizadores dos eventos locais procuram assegurar a presença dos artistas que a sua terra mais gostaria de ver, negoceiam as datas, contratos e «cachets» com os empresários ou agentes, e o mercado cresce, pleno e exuberante, já que a bolsa de cotações dos espectáculos musicais funciona à semelhança de outras: quanto mais conhecido e procurado o artista, mais elevado o preço dos serviços. Existem, porém, espectáculos ao alcance de todas as bolsas, e quando a vinda do compositor original acompanhado por uma banda de excelentes músicos se torna financeiramente impraticável, há sempre a possibilidade de recorrer ao intérprete que vem sozinho com a sua cassete de temas para o «play back» instrumental (que muitas vezes é também vocal), ou à banda ignota que sabe tocar versões das músicas de outros.

Aparentemente, toda a gente ganha. Os locais ganham o brilho da sua festa, com uma atracção contratada. Os empresários e agentes ganham a comissão. As empresas de luz e som ganham o aluguer do material. Os instrumentistas, os «roadies», os motoristas, ganham um emprego sazonal. Os artistas-autores - que só no próximo ano receberão os direitos relativos às vendas de 1998 - e os artistas-intérpretes (que reproduzem músicas e canções escritas por outros) ganham nos espectáculos tudo o que podem amealhar para os próximos tempos. As editoras, enfim, ganham a exposição pública dos seus produtos por um processo imaculado, que atinge directamente os consumidores mais plausíveis, aqueles que quererão conservar em disco a memória efémera de uma noite singular. Existe, no entanto, um pequeno mas importante óbice: para que o sistema funcione, é necessário que os artistas tenham exposição pública, que sejam efectivamente reconhecidos e procurados. O que é fácil para os consagrados, mas difícil para os estreantes.

Uma das formas de tornear o problema é utilizar os expedientes do «marketing» para criar novos intérpretes, personagens formadas à medida para preencherem um lugar e uma função específica num mundo de sonhos que estejam à altura dos «perfis» traçados para os seus hipotéticos consumidores. Podem ser intérpretes individuais, para os quais se cria um repertório específico (veja-se a jovem Ruth Marlene e as outras jovens), mas neste momento vive-se em Portugal a euforia daquilo a que se chamam já as «bandas-proveta», grupos de rapazes e raparigas vestidos, penteados, coreografados e transformados em novos e efémeros ídolos do momento. Não importa que não tenham muito para dizer, ou que as suas relações com o fenómeno musical sempre tenham sido distantes: tudo isso são pormenores que algumas semanas ou meses de treino poderão limar. A sua vida útil em regra durará apenas um Verão, mas no próximo ano serão substituídos por um «novo» fenómeno, que não deverá aparecer antes de Abril.

Existem soluções menos ortodoxas. No início dos anos 60, alguns empresários da pop britânica descobriram, por exemplo, que investir na produção própria de um disco de estreia para uma das suas novas bandas, ultrapassando os vexatórios critérios de selecção das editoras consagradas, era um suicídio financeiro: os discos iam para as lojas, mas não eram ouvidos na rádio e as pessoas não os compravam por desconhecimento absoluto do que se tratava. No entanto, se os próprios empresários reinvestissem no produto, indo às lojas (ou enviando alguém das suas relações) para comprarem ao balcão todos os discos disponíveis, os resultados eram amplamente compensadores: os discos passavam a constar da tabela de títulos mais vendidos, as rádios e a imprensa assumiam-nos como os êxitos do momento, e o alegre público passava a fazer fila à porta das discotecas para os poder adquirir. Trinta anos depois, o disco compacto não torna incomportável uma manobra financeira deste tipo. Mesmo na única fábrica de CD existente em Portugal, uma tiragem de mil discos custa menos de 200 contos - efectuando uma prospecção junto de outras fábricas europeias é até possível que se encontre mais barato - e um investimento deste género continua a ser compensador.

Mas existem soluções tipicamente lusitanas. Por exemplo, a venda de cassetes «legais» está condicionada à aposição de um selo oficial, com holograma e número de série. Assim, basta comprá-los em número superior à verdadeira tiragem do produto para poder inflacionar esta última. Por exemplo, existe a possibilidade de fazer corresponder os números de «vendas», não com as vendas de discos efectuadas ao balcão das discotecas mas antes com a quantidade de exemplares saídos da fábrica - mesmo se em direcção a um armazém que poderá, ou não, pertencer à própria editora. O objectivo, em última análise, é sempre o mesmo: poder reclamar um lugar nos «tops», que deixam de servir como indicadores de gostos ou tendências do público tornando-se um mero barómetro da eficácia das estratégias editoriais.

Em Portugal, este feudo divide-se entre as editoras representadas na Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) e as da Associação Fonográfica Independente (AFI). Na primeira são preponderantes as multinacionais tradicionalmente instaladas no sector, na segunda as editoras responsáveis pela chamada música «pimba». Juntas, colaboram na elaboração do programa televisivo «Made in Portugal» - surgido há quatro anos, e desde então apresentado por Carlos Ribeiro - mas esta ligação não tem sido imune às polémicas. Recorde-se aqui que, em Outubro de 1995, Tózé Brito, presidente da BMG, anunciou o boicote da sua editora àquele programa, dizendo ao EXPRESSO que «o que está em causa é a fidelidade, a verdade e a credibilidade das tabelas de vendas, já que sem elas o top é extremamente fácil de manipular. As vendas daquele tipo de música não podem auscultar-se à saída das lojas, e por isso as informações são enviadas pelas próprias editoras». O representante da AFI afirmava por seu turno não poder dizer «que uma ou outra editora não possa fazer determinado jogo - o que eles não podem é estar a fabricar produto indefinidamente apenas para aparecerem nas tabelas de vendas».

Será que não? Neste mês de Agosto, aparentemente com o apoio de ambas as associações e o beneplácito da RTP (que também emite o programa na RTP1 e na RTP/África), o Top do «Made in Portugal» transformou-se subitamente num «top de preferências», no qual toda a gente é convidada a votar através de chamadas de valor acrescentado. Como se sabe já de anteriores momentos da música popular portuguesa, e em particular das preferências radiofónicas no período «rock português» de 1981-83, não podemos ter a certeza de que toda a gente telefone - mas podemos ter a certeza de que as editoras não deixarão de o fazer. Quem garante a imparcialidade e a fiabilidade das chamadas? Como saber quem telefona? Quanto tempo durará semelhante arranjo? Este sistema é mais fiável, verdadeiro e credível do que o anterior?

A julgar pelo programa do último domingo, as 20 preferências musicais no país do 0641 contemplam artistas como Os Renovadores («A tua mãozinha é muito atrevida…»), Cândida Branca-Flor, as Baby, Neuza, Nucha, Ruben André, Ilda de Castro, Lucas & Mateus ou Toy, sendo coroadas pelo triunvirato de Tony Carreira, Emanuel e Luís Filipe Reis, actualmente em primeiro lugar. E podem dividir-se facilmente por editoras - apenas estão representadas quatro ou cinco, com nítida preponderância de uma delas: curiosamente a mesma que há alguns meses surgia como patrocinador tácito do programa, com anúncios locucionados por Carlos Ribeiro, e apresentados durante o intervalo da emissão. É um caso singular, que não deve ser isolado de outros casos singulares - numa reportagem publicada há pouco mais de um mês no «Público», o produtor de uma das novas bandas-proveta revelava que «aparecer nos programas de televisão, como o 'Big Show SIC', é muito caro. É a editora que paga isso».

No que à música diz respeito apenas temos, em suma, operadores televisivos interessados em acompanhar os artistas ao longo do país real - todos eles parecem mais apostados na edificação de um «Portugal Virtual» que gostosamente espalhamos também pelo mundo com a ajuda do satélite da RTP1. É o nosso retrato: será justo, credível, digno? Dar-nos-á alguma margem competitiva no mercado internacional? Que responda quem souber.

No país real, que dois repórteres do EXPRESSO percorreram na companhia dos novos Silence 4 e do consagrado Emanuel - os nomes com mais concertos na semana de 8 a 15 deste mês - a música tem outras verdades, outras necessidades e alguns princípios elementares que agregam diversas gerações de novos e velhos públicos.

Escurece nos campos o dourado dos cereais, as águas refulgem, a vida ao ar livre torna-se possível e desejável. O mundo vibra e responde ao apelo da viagem. O emigrante regressa à casa da aldeia, o citadino parte em busca de um oásis de pureza, o ilhéu vem ao continente. O camponês abre as portas, com a expectativa prazenteira de quem prepara a colheita. O marítimo estende os seus préstimos comerciais a uma multidão desordenada e carente. Reencontram-se as famílias, confortam-se os idosos, os filhos ensaiam as primeiras aventuras. Em Agosto, o mundo pára e avança - é um tempo de identidade e transformação, de reconhecimento e metamorfose, resumindo o antigo e inventando o novo - um tempo solar que se deve celebrado com música, para unir corpos e almas na certeza das sensações compartilhadas. Que isso aconteça num festival com atracções internacionais ou na festa da pequena aldeia, não importa muito - no essencial não é diferente.

Jorge Pires / Expresso, 22/08/1998

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As tabelas de venda reflectem o gosto do público ou os precários equilíbrios da indústria discográfica nacional?

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